Em sua estreia na gravadora Nonesuch, com lullaby and… The Ceaseless Roar,
o cantor e compositor Robert Plant interpreta duas versões do
assombroso bluegrass “Little Maggie,” popularizada em meados dos anos
1940 pelos Stanley Brothers. Nas mãos dos Stanley Brothers, a canção é
tão triste e estóica quanto o narrador, que promete ir para alguma
"terra muito distante" ao invés de ver sua amada com outro homem.
Enquanto traços de suas raízes bluegrass claramente permanecem, a
“Little Maggie” de Plant surge em território intrigante e desconhecido,
antecipando o álbum que está por vir, com um baixo pulsante e impregnado
do “Bristol sound”, que o Massive Attack tornou famoso, e um lamento de
violino criado por um instrumento gambiano de uma corda só chamado
ritti. No final do álbum, a canção é retomada de maneira ainda mais
surpreendente, em um formato dub, renomeada “Arbaden (Maggie’s Babby)”. O
vocal principal inicialmente é assumido pelo gambiano Juldeh Camara, em
sua língua nativa, o Fulani, antes de Plant tomar o microfone e trocar
linhas de vocal com Camara, apoiado por tambores e guitarras duelantes.
Perto de completar 50 anos de carreira, o ex-vocalista do Led
Zeppelin e membro do Rock and Roll Hall of Fame de fato foi a terras
distantes, não como um amante desesperado, mas como um intrépido
explorador musical. Para escrever e produzir lullaby and… The Ceaseless
Roar, no entanto, ele retornou a sua Inglaterra natal, enriquecido por
tudo o que viu, ouviu e investigou. Nos últimos anos, Plant viveu e
gravou nos Estados Unidos, trabalhando com músicos em Nashville, morando
por um tempo em Austin, e arrumando tempo para dirigir pelos caminhos
do Mississippi, abastecido pelo som do "delta blues", que o inspira
desde a adolescência (uma viagem de carro relatada na nova “Turn It
Up”). Ele anteriormente tinha atravessado o norte e o oeste da África,
seguindo a trilha do blues de volta ao deserto, onde uniu-se a músicos
tuaregues nômades e outros no renomado Festival of the Desert, em
Essakene, Mali. Mas agora as andanças criativas levaram-no de volta à
Inglaterra e a uma redescoberta — e uma reavaliação — de si mesmo como
artista e compositor.
Vídeo
Enquanto colaborava em gravações e shows com o superstar do bluegrass
Alison Krauss ou caía na estrada com o guitarrista Buddy Miller e o
cantor e compositor Patty Griffin integrando sua recente Band of Joy,
ele interpretou muitas canções de outras pessoas: folk moderno e
tradicional, blues e bluegrass, tentando melhor entender e assimilar a
particularidade do som americano em sua música. Seu sucesso,
especialmente com Krauss, foi extraordinário, e expandiu sua base de fãs
para além do mundo do rock clássico. O conhecimento e o gosto de Plant
combinados com o virtuosismo de Krauss provou-se formidável,
interpretando canções de Gene Clark, Sam Phillips, Tom Waits, Townes Van
Zandt, entre outros. Olhando para trás, Plant comenta: “Eu fiquei muito
feliz em aprender a trocar e estender minhas trocas. Então eu pude
fazer meu caminho me aliando a bons cantores”.
Em lullaby and… The Ceaseless Roar, Plant — que os leitores da
Rolling Stone escolheram como o maior vocalista de rock de todos os
tempos em uma votação realizada em 2011 — ensaia o que está entre as
melhores performances vocais de sua carreira solo, equilibrando potência
e pathos — íntima e emocional às vezes (a balada voz-e-teclado “A
Stolen Kiss”, gravada com nitidez em uma capela), atmosférica e
encantadora em outras (o dramático desdobramento de “Embrace Another
Fall”, uma viagem pela fronteira do País de Gales). Mas o desafio,
revela ele, não era o ato de cantar, mas as canções em si: “Depois que
voltei à Inglaterra, eu me perguntava, eu poderia realmente escrever?
Será que me resta algo? Não saber e não estar realmente convencido de
que eu tinha algo meu, porque eu cantei músicas dos outros por um longo
tempo”.
“Nos primórdios do meu esforço para escrever canções, quando conheci
Jimmy Page e John Paul Jones”, continua ele, “Eu estava apenas tentando
juntar os tempos com o que estava acontecendo e usar o que aprendi de
Dion e Howlin’ Wolf. Agora eu tenho um índice de tudo, um absoluto
arco-íris de influências”. Quanto ao assunto, ele decidiu: “Eu preciso
falar sobre o que está acontecendo na minha vida, no meu colo, falar de
minha experiência. É muito mais honesto e apropriado”.
O single “Rainbow” é como uma canção rock n' roll há muito tempo
perdida, impulsionada por uma grande reverberação de Bo Diddley e
batidas do oeste africano. Como ponte, Plant interpola um dístico de um
poema da era Vitoriana do escritor-designer William Morris, considerado
pai do gênero ficção científica graças ao resgate de textos medievais e
tradução de contos folclóricos escandinavos, além de indubitável
inspiração de longa data para Plant. Em “Embrace Another Fall,” Plant
convidou a cantora folk galesa Julie Murphy, com quem havia gravado
anteriormente uma faixa para o Afro Celt System, para interpretar uma
secular canção celta, “Marwnad yr Ehedydd”, outra pedra de toque para
Plant, dado seu fascínio pela mitologia e música celta.
“Pocketful of Golden”, em parte um hino da terra para a qual
retornou, é um exemplo especialmente convincente do que Plant é capaz de
criar com sua atual banda, a Sensational Space Shifters. Como ele
observa, é "uma daquelas incríveis situações em que juntamos grandes
ideias. Todas as habilidades combinadas da banda, à deriva através
destas variedades e estilos, nos levando a lugares maravilhosos”.
Enquanto completava o processo de composição, Plant foi
instintivamente atraído de volta ao eclético grupo de músicos com o qual
excursionara e gravara anteriormente como Strange Sensation, no início
da década passada. Com alguns membros daquele combo, ele lançou em 2002
Dreamland, um álbum de covers em sua maioria do final da década de 1960
e, com mais membros daquela banda ao vivo, o aclamado Mighty Rearranger
em 2005. Plant explica: “Como eu estava indo em direção ao leste,
através do Atlântico, eu estava começando a me mexer para reunir meus
amigos do Strange Sensation e ver o que poderíamos fazer. Nós tocamos
juntos por 15 meses e aqueles shows eram emocionantes. Mudamos o nome
para Sensational Space Shifters e trouxemos o maravilhoso Juldeh Camara
do oeste da África, de Gâmbia, que toca o ritti, um violino de uma corda
só, e o kologo, que é o instrumento africano que deu origem à guitarra.
E Dave Smith juntou-se a nós na bateria. Então desenvolvemos esse
maravilhoso híbrido. Foi onde tudo começou”.
O Sensational Space Shifters criou um grande burburinho no circuito
de shows e festivais (e, graças a uma legião de fãs, em todo o YouTube).
Eles moldaram um som e um relacionamento no palco que lhes permitiu
experimentar livremente quando voltaram ao estúdio. Trabalhando no
Helium Studio em Wiltshire e no complexo Peter Gabriel’s Real World em
Bath, com o próprio Plant de produtor, eles rápida e intuitivamente
encontraram um groove feroz. Plant recorda: “Houve momentos em que as
músicas se abriram completamente para nós e inevitavelmente nos disseram
como deveriam ser. Elas não foram apenas gravadas, mas escritas no
local”.
O nome da banda não poderia ser mais apropriado, dada sua capacidade
de levar melodias de rock e folk a novos e exóticos lugares com uma
aparente facilidade de improvisação. Uma rápida olhada nos currículos
individuais ressalta a ousadia de Plant na escolha de seus
colaboradores. O guitarrista Justin Adams tocou em discos world music de
artistas inovadores como Jah Wobble e Natacha Atlas, e produziu o
renomado grupo tuaregue Tinariwen. O tecladista/programador John Baggot e
o baixista Billy Fuller foram peças-chave do chamado Bristol Sound, ao
lado de Massive Attack e Portishead (e Fuller colaborou com Geoff
Barrow, do Portishead, em um trio chamado Beak). O jovem
multi-instrumentista gambiano Camara, que aprendeu o ofício com o pai,
colabora regularmente com Adams em um projeto híbrido chamado Juju. O
baterista Dave Smith integra o grupo londrino Loop Collective e é
especialista em jazz e música eletrônica. Finalmente, o guitarrista Liam
“Skin” Tyson vem da banda de britpop Cast.
“É tão alegre", disse Plant ao Guardian sobre trabalhar com essa
formação, “e a grande coisa é que no fim não é nada demais. As pessoas
se juntam para fazer o que querem, e o que podem. O som que Justin
(Adams) e Juldeh (Camara) fazem é uma coisa linda. É um movimento
natural”.
Assim também é lullaby and… The Ceaseless Roar: um movimento natural,
outra progressão fascinante para o próprio Plant. Mais que qualquer
artista de sua geração, Plant, uma indiscutível lenda do rock, continua a
surpreender e desafiar seus fãs — e a si mesmo — com uma música que é
esperta, excitante e completamente atual. Suas décadas de experiência,
seu incrível legado como frontman do Led Zeppelin e como artista solo
apenas servem para impulsioná-lo à frente. Ele está repleto de
histórias, mas seus ouvidos estão sintonizados com o mundo inteiro ao
seu redor, ouvindo o futuro.
—Michael HillNome: Robert Plant
País: Inglaterra
Ano de formação: Primeiro disco solo lançado em 1982
Integrantes: Robert Plant (vocais), Justin Adams (guitarra), Liam “Skin” Tyson (guitarra), John Baggot (teclados/programações) Billy Fuller (baixo) Juldeh Camara (ritti), Dave Smith (bateria).
Sucessos: Little Maggie, Rainbow e Angel Dance
fonte: Lollapalooza
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